Berlim, antiga capital do
terceiro Reich, esteve dividida por quase três décadas, entre 1961 e 1989, por
uma muralha que se tornou o grande símbolo da guerra fria. Essa abominável construção erguida com base no
antagonismo entre Soviéticos e americanos foi durante aqueles anos o símbolo da
rivalidade entre Leste e Oeste. Contudo, ela também refletiu a incapacidade do socialismo
em manter-se como um sistema atraente para a população alemã.
Na madrugada de 13 de agosto
de 1961, a população de Berlim, nas proximidades com a linha que separava a
cidade em duas partes, acordou com estranhos barulhos. O inusitado movimento
nas ruas era provocado pela construção de uma interminável cerca de arame
farpado que provisoriamente dividiu a faixa de 37 quilômetros da cidade. Posteriormente,
trabalhadores passaram a descarregar tijolos, blocos de concreto e sacos de
cimento para erguer uma construção definitiva, uma muralha. O duro solo foi
quebrado com britadeiras e picaretas e o muro, o pavoroso Mauer, como o
chamavam os alemães começou a surgir.
A história do muro de Berlim,
na verdade, se inicia bem antes de sua construção quando a ofensiva do Exército
Vermelho conquistou a capital alemã em maio de 1945. Este episódio provocou o
suicídio de Hitler e pôs fim a segunda guerra mundial no cenário europeu. Contudo,
o destino da Alemanha já havia sido traçado pelo tratado de Yalta e fora confirmado pelo de Potsdam. Tais tratados delimitavam que independente
de quem chegasse primeiro na capital do III Reich, essa seria dividida entre os
aliados. Desta forma, apesar dos soviéticos terem primeiro tomado a cidade e um
expressivo território ao seu redor, foram obrigados a ceder o lado ocidental
dela para os três outros membros dos aliados. Portanto, Berlim foi dividida e administrada,
a partir de 8 de maio de 1945, em quatro setores distintos: soviético, americano,
inglês e francês.
Com o início das hostilidades
entre os vencedores, as quatro zonas transformaram-se em duas: oriental e ocidental.
Em represália ao Plano
Marshall, que visava a reconstrução dos países capitalistas da Europa destroçada
pela guerra, os soviéticos decretaram o bloqueio econômico com o lado ocidental.
Todas as vias que ligavam Berlim ocidental com a Alemanha Ocidental foram então
fechadas pelos soviéticos, objetivando com isso, forçar os ocidentais a desistirem
da zona de ocupação na cidade. Este bloqueio, no entanto, foi quebrado pela via
aérea (Berlin Airlift) que manteve o
abastecimento na área de Berlim ocupada pelos ocidentais. O bloqueio soviético
mostrou-se inoperante e Stalin pôs fim a este plano em 12 de maio de 1949.
O sucesso do plano Marshal e
o isolamento da população oriental provocou uma onda migratória em direção a
parte ocidental de Berlim. Diversos mecanismos foram utilizados para cercear o
livre acesso da população entre as zonas dominadas por ambos os lados:
Em retrospecto, o muro, além de ser um
desastre ideológico, a encarnação do fracasso do socialismo real, resultou de
um previsível processo de isolamento, seguido de enclausuramento dos alemães
orientais, que já se arrastava desde 1952: ano em que a Zonengrenze, a
fronteira entre as duas Alemanhas (a Federal, pró-ocidental, com sede em Bonn,
e a comunista, pró-soviética, com sede em Berlim), foi definitivamente fechada.
Dali em diante, os soviéticos só permitiram o trânsito de um lado para o outro
por alguns locais selecionados da cidade de Berlim. Em seguida ao esmagamento
do levante dos trabalhadores de Berlim oriental contra a ocupação russa, ocorrida
em 17 de junho de 1953, foi exigida dos ocidentais um passe especial para
poderem circular do lado oriental. Em 1957, o cerceamento dos westi, dos
alemães orientais, ampliou-se com a adoção de severas punições, que chegavam a
condenações de até três anos de cadeia para quem tentasse deixar a lado
comunista sem permissão.
Mesmo
com tantas restrições a população migrava insistentemente para a porção
ocidental de Berlim e, objetivando eliminar definitivamente tais migrações, o
muro foi erguido.
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