Os grandes conflitos ocorridos no Nordeste brasileiro nos ajudam, quase sempre, a entender os graves problemas sociais que os causaram. Contudo, em épocas de meios de comunicação precários, um simples boato poderia funcionar como estopim para uma grande revolta que, na verdade, reunia motivos diversos.
Em meados do século
XIX, o Brasil vivia uma crise de mão de obra provocada pelas proibições
impostas pela Lei Eusébio de Queiroz, 1850. Essa falta de braços para o
trabalho provocou uma procura por mão de obra livre, aumentando a oferta por
trabalho em algumas regiões. É fato que o Brasil caminhava para o fim da
escravidão, e por receio de se tornarem os novos escravos, a população pobre de
várias províncias nordestinas iniciou, a partir de Pernambuco, o movimento que
ficou conhecido por o “Ronco das Abelhas”.
Os impulsos
modernizadores dados com a chegada do Segundo Reinado, denotaram que o poder
imperial sequer conhecia a população brasileira. Na época, o controle sobre
registros de nascimentos eram feitos pelas paróquias (regime do padroado),
limitando a produção de dados estatísticos sobre a população aos desleixados
registros paroquiais. Assim, viu-se a necessidade de promover um Censo Geral do
Império e um Registro Civil dos Nascimentos e Óbitos, que foram
regulamentados pelos decretos de 1851, ou seja, o ponto de partida para o
levante armado.
A carência de meios de
comunicação, somada a ignorância popular a cerca dos reais objetivos do censo,
transformaram os projetos do governo em uma onda de boatos que desencadearam no
conflito. O povo, a partir da Comarca do Paudalho – PE levantou-se contra o
poder instituído, bem como, os grandes proprietários de terra da região. Foi
difundido que a real intenção desses decretos era tornar o trabalhador livre,
escravo.
Enquanto a notícia foi
se espalhando, outros Estados foram aderindo ao movimento, incluindo
Paraíba, Alagoas, Ceará, Sergipe e Minas Gerais. Porém, foi em Pernambuco que o
movimento teve mais repercussão. O conflito foi ganhando, cada vez mais,
adeptos chegando, ao final do movimento, a ser integrado por mais de quatro mil
componentes, que percorriam grandes regiões em uma espécie de “arrastão”.
Em 1852, o governo,
diante de toda essa agitação popular, passou a utilizar severos mecanismos de
repressão, mobilizando mais de mil soldados da polícia, além da convocação da
Guarda Nacional e a utilização de padre Capuchinhos, que deveriam prometer a
salvação a quem desistisse do movimento.
Entre o ontem e o
hoje...
Paudalho, local em que
se iniciou o “Ronco das Abelhas”, é hoje um importante município da Mata Norte
pernambucana. Desenvolve, desde os tempos do movimento, várias atividades
ligadas à agricultura e ao comércio. Cidade próxima à Recife, com baixa
densidade demográfica, pacífica e acolhedora, é uma boa escolha para se
estabelecer “longe” da agitação da capital.
A própria história
omite o episódio "Ronco das Abelhas". Portanto, não há comemoração
alusiva à esse fato histórico. Convém salientar que tal movimento mostrou,
embora de maneira desorganizada e confusa, a força do trabalhador pernambucano
e nordestino. Por isso, hoje é lembrado com orgulho pelos trabalhadores,
principalmente os mais humildes.
Texto produzido por
Flávia Jatobá de Barros, Ana Thaís Barreto e Maria Eduarda Pedrosa Bouçanova.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários