O conflito entre Irã e
Iraque, ocorrido entre 1980 e 1988, foi resultado de hostilidades anteriores
que envolviam interesses territoriais e políticos na região. Além disso, foi
marcado por influências externas por parte dos líderes do bloco socialista e
capitalista.
A crise que iniciou o
conflito começou quando, em 1980, o presidente iraquiano Saddam
Hussein, tornou sem validade um acordo assinado em 1975 que entregou
ao Irã aproximadamente 500 quilômetros quadrados da faixa de
fronteira localizada ao norte do canal de Shatt-al-Arab. Em troca, o
Irã assumiria o compromisso de não mais enviar assistência militar à minoria curda no
Iraque que lutava por sua independência. Na verdade, este argumento escondia a
intenção de controlar o porto de Bassora, principal porto do país, e a
reapropiação de três ilhas no estreito de Ormuz que fora tomado
pelos iranianos em 1971. Além disso, o Iraque queria desestabilizar o
governo de Teerã e se apossar do petróleo da província iraniana
do Cuzistão.
Nos meses que antecederam o
conflito, observaram-se várias trocas de acusações de ambas as partes: os
iraquianos acusavam o Irã de infiltrar agentes no Iraque visando a derrubada do
regime de Saddam Hussein. O Irã por sua vez, acusava o Iraque de violação dos
espaços aéreos, terrestres e marítimos. Ambos foram atacados por aeronaves em
pontos estratégicos principalmente, em poços de petróleo. A declaração oficial
de guerra era só uma questão de tempo.
Finalmente, em 22 de
setembro de 1980, forças iraquianas invadiram o ocidente do Irã usando a
vantagem do elemento surpresa e o considerável poder bélico. O Iraque tinha a expectativa de um conflito
rápido, uma vez que contava com um exército moderno equipado na época com o
auxílio dos soviéticos. Ricos países muçulmanos como o Kuwait e a Arábia
Saudita, investiam pesado na campanha militar do Iraque, pois tinham interesse
no enfraquecimento do regime iraniano. Por outro lado, o Irã estava isolado internacionalmente,
uma vez que consideravam tanto americanos quanto soviéticos como seus inimigos.
O avanço iraquiano deu-se na
linha de fronteira, área disputada, mas pouco importante. Posteriormente,
avançou contra a região produtora de petróleo do Irã, mas sentiu os efeitos da
contraofensiva iraniana que recapturou os territórios inicialmente
conquistados. Apenas Khorramshahr permaneceu dominada pelos iraquianos.
A guerra que parecia fácil
para os iraquianos mostrou-se cada vez mais complicada frene a resistência iraniana.
Passados dois anos da guerra as forças iraquianas foram forçadas a recuar em
todas as suas frentes inclusive, na cidade de Khorramshahr que também foi
evacuada.
Intimidado com a resistência
do Irã, o Iraque a propôs um cessar-fogo que foi recusado pelo Irã que levava
vantagem no conflito.
Aproveitando o bom momento, o
Irã partiu para o ataque contra os colaboradores do Iraque, principalmente o Kuwait, e
outros Estados do Golfo Pérsico. A guerra começou a tomar grandes
proporções prejudicando inclusive, o abastecimento de petróleo mundial. Nesse
contexto, vem a intervenção da ONU e de alguns países europeus. Navios
de guerra de vários países foram enviados para o golfo pérsico afim de evitar
ataques iranianos a petroleiros internacionais.
Os iraquianos bombardearam em 1985, uma usina
nuclear do Irã que esava parcialmente construída. Além disso, bombardearam
alvos civis no Irã o que provocou indignação entre os iranianos. A resposta por
sua vez, veio com ataques contra Bassora e Bagdá.
Um relativo equilíbrio de forças
foi estabelecido a partir de 1984, o Iraque contava com financiamentos da Arábia
Saudita e Estados Unidos e por outro lado, o Irã era apoiado pela Síria e Líbia.
Mudança de posição – os
soviéticos que inicialmente, vendiam armas para o Iraque, mudaram de lado no
conflito passando a colaborar com o Irã. Essa mudança de posicionamento ocorreu
em função do apoio americano ao Iraque.
Uma nova fase da guerra
iniciou quando os iranianos intensificaram os ataques a navios civis, sobretudo
petroleiros que navegavam pelo golfo pérsico. Isso resultou no aumento da
presença naval estrangeira na região. Neste mesmo período, surgiram acusações que
ambos os lados estariam usando armas químicas na guerra, desgastando ambos os
lados. Essas acusações, somadas aos prejuízos econômicos amargados com
afundamentos de petroleiros e instalações destinadas a extração de petróleo,
iniciaram as pressões pelo fim dos combates.
Nos primeiros meses de 1988
a ONU exigiu um cessar-fogo imediato, contudo, o Irã não aceitou. No
início de agosto do mesmo ano as negociações ainda não tinham avançado, mesmo
com a mediação do secretário-geral da ONU, Perez de Cuéllar. Todavia, a
economia iraniana já não podia suportar os esforços de anos de guerra e um armistício
finalmente foi aceito antes do final do mês. A questão só foi definida definitivamente,
mesmo com o estabelecimento da paz em 1988, no início da década de noventa. O
Iraque aceitou o acordo que desde 1975 estabelecia a fronteira entre os
dois países.
Não se pode afirmar que
houve vencedores neste conflito, mas as perdas superaram a marca de 1,5 milhão
de vidas, sem contar os prejuízos econômicos.
As relações diplomáticas entre
Irã e Iraque foram restabelecidas ainda no início da década de noventa. Pouco tempo
depois, o Iraque iniciou um novo conflito, a guerra do golfo.
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